Publicado por: YBATIMÓ | 27/05/2018

A perversidade das feiras livres

A perversidade das feiras livres, uma reflexão

Estava bem frio, por volta das 7 horas quando nós fomos colher nossas verduras em um número certo para entregar em cestas, previamente pedidas, havia chicórias congeladas, colhemos  o número certo de verduras por cesta, mas sei que essa não é a realidade dos agricultores, de modo geral, somos uma  exceção;

As famílias de agricultores acordam com o dia ainda escuro, colhem grande parte da sua produção, lavam, em água gélida, amarram os maços, me espanto com essa habilidade, tudo vira amarrio, colhem laranjas e tangerinas, abacates, que bom que abóboras e bananas podem ser colhidas antes, encaixotam as verduras, colocam em carros precários, saem de locais distantes,  gastam gasolina para chegar até o local da feira, montam suas barracas, com as mãos sujas de terra, os sapatos com lama ou poeira, esperam…o sol vem forte, algumas verduras mais frágeis começam a murchar, o consumidor apalpa uma fruta, pega um maço na mão, regateia o preço, pode fazer 2por um????A verdura já um pouco murcha, o tempo se esgotando, a banca ainda cheia…sim…pode levar, de pé…desde a madrugada, olhando para verduras que demoraram 2, 3 meses para serem colhidas, as mudas foram compradas, se agachou para plantar, irrigou por muitos e muitos dias, brigou com as lagartas, com a formiga, com o excesso de chuva ou de sol, com a competição de todas as ervas  espontâneas que crescem numa velocidade extraordinária…ao colher havia apenas a expectativa que se transformasse em dinheiro,  ou em outros produtos…nunca a certeza, a banca ainda cheia, a hora de terminar chegando, posso levar 4 maços pelo preço de um??? Pode, melhor vender barato do que não vender, as serralhas e almeirões, as mais frágeis não tem o mesmo destino, são jogadas no lixo, para não ocuparem espaço na carroceria, nos caixotes que carregam mais vazios, cansados e já com fome, o sol forte…o dia não acaba aqui, é preciso plantar mais, regar, capinar…continuar, a vida quase sem poesia, pois falta apoio, crédito, subsídios, consciência, anda faltando água, o agricultor é órfão de tudo, soma dificuldades diariamente, os filhos não querem essa vida e quando podem escapam e fazem outras escolhas, as adversidades são demais.

Acho um modelo injusto e desigual, há uma desvalorização imensa do agricultor e da natureza, continuamos imaginando que a vida no campo é apenas poesia e fartura, que  seus recursos são infinitos, se fôssemos mais racionais nos daríamos conta de que esse modelo está ultrapassado e deveria ser repensado, nos valendo da tecnologia, o agricultor poderia produzir já com clientes certos, as verduras certas,  e apenas entregar em um dia determinado, assim evitaríamos desperdícios e plantios desnecessários, poupando recursos e trabalho, valorizando alimentos fundamentais para nossa vida, nos apoderando dessa cadeia,  até mesmo o uso de venenos poderia diminuir, as informações poderiam circular melhor e a vida de todos nós seria mais feliz e poderíamos nos encontrar numa feira para, sem pressões, conviver, compartilhar e ser mais felizes!!!

 

rosileli


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